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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Eunápolis - Roberto Martins: Pacto para o Desenvolvimento

27 de julho de 2011 - Notícia de P E N S A M E N T O

No último dia 14 o governador Jaques Wagner assinou com o presidente da Veracel Celulose um Pacto para o Desenvolvimento da Costa do Descobrimento, durante o festejo dos 20 anos da empresa, em Eunápolis. Pelo Pacto será destinado 9 milhões de reais, até 2015, para investimento nas áreas social e ambiental, nos 10 municípios onde atua.
É preciso esclarecer quem vai investir, se os recursos serão somente estes, e quem vai gerir sua aplicação.
Em última instância o dinheiro é público, fruto da Lei Kandir, que isenta os produtos exportados de ICMS. Os Estados pagam a conta, pois não arrecadam, para que o país ganhe, com a exportação. Agora, pelo acordo, 25% dos créditos resultantes desta operação, serão destinados ao investimento. Melhor assim.
Mas isto basta?
Desde o início da Veracel, parte do movimento ambientalista e da sociedade civil reivindica que 5% do investimento estatal, feito pelo BNDES, sejam destinados a um fundo deste tipo.
Agora surge o fundo resultante da Lei Kandir. Não seria o caso de a ele se agregar esta outra parcela? Especialmente quando a empresa cogita sua duplicação e, portanto, requer novos e elevados investimentos públicos?
Outro aspecto fundamental é saber quem vai gerir o fundo.
É preciso um conselho que não seja da empresa, nem do governo. Que tenha a participação da sociedade. Um conselho tripartite seria a forma ideal para a gestão.
O primeiro terço deve ser ocupado pelo poder público, seja ele federal, estadual e pelas prefeituras envolvidas. O segundo terço destinado aos empresários: a Veracel e a representação organizada dos empresários, como os fornecedores da empresa, as associações comerciais, industriais e de serviços, os CDLs.
O último terço deve caber à sociedade civil, permitindo que trabalhadores, ONGs, as mais diversas representações comunitárias tenham voz e vez.
Um conselho deste tipo, formado democraticamente, representará os interesses da Costa do Descobrimento, permitindo que os recursos sejam aplicados em projetos de real interesse para o desenvolvimento sustentável.
Roberto Martins é escritor e jornalista, escreve eventualmente para o Imprensa Livre. Este artigo foi publicado no jornal A Tarde de 26/7/2011, na página 2.

Fonte: IMPRENSA LIVRE

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quadrinhos e Guerra Fria

Gibis retratam o conflito entre EUA e URSS

Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
O Quarteto Fantástico enfrenta o Doutor Destino

A Guerra Fria foi uma disputa travada durante quase cinco décadas pelas duas superpotências vencedoras da Segunda Guerra Mundial: os Estados Unidos e a União Soviética. Foi um período marcado por muita espionagem e propaganda política, tanto do lado norte-americano quanto do soviético. Não bastasse tudo isso, armas atômicas seriam usadas caso as duas superpotências partissem para o conflito militar direto.

Foi durante a Guerra Fria que uma nova onda de super-heróis surgiu nos gibis norte-americanos, especialmente nos da Marvel Comics (hoje a maior editora de quadrinhos do mundo). Você certamente já ouviu falar dessas personagens, pois várias foram adaptadas para o cinema nos últimos anos, com grande sucesso de bilheteria. Dentre essas personagens, podemos destacar o Homem-Aranha, os X-Men, o Hulk e o Quarteto Fantástico.

Aqui, falaremos da relação delas com a Guerra Fria. Afinal, embora sejam fictícias e tenham sido criadas apenas para entretenimento, seus criadores se inspiraram na época que viviam. Começaremos pelo Quarteto Fantástico, o primeiro gibi da Marvel em que o escritor-editor Stan Lee fez parceria com o desenhista Jack Kirby.

O Quarteto Fantástico

O primeiro gibi do Quarteto Fantástico foi publicado em novembro de 1961 -ou seja, poucos meses depois de o cosmonauta soviético Yuri Gagarin ter-se tornado o primeiro ser humano a viajar para o espaço, realizando um vôo orbital (12 de abril de 1961), e quase uma década antes de o astronauta norte-americano Neil Armstrong ter sido o primeiro homem a pisar na Lua (20 de julho de 1969). Assim, o Quarteto Fantástico foi lançado na mesma época em que os EUA e a URSS disputavam a corrida espacial.

O próprio surgimento desse grupo de heróis faz alusão à Guerra Fria: no início da história, pouco antes de os quatro futuros heróis viajarem para o espaço, a narração menciona que os EUA estão numa "corrida espacial" com "uma potência estrangeira". Claro que a tal "potência estrangeira" era a URSS, mas, diferentemente do que tinha acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, os autores dos gibis da Guerra Fria preferiam não dar nome aos bois quando se referiam aos "inimigos da América".

No gibi, o Quarteto Fantástico tem origem um pouquinho diferente daquela contada no filme de 2005: quatro amigos - o cientista Reed Richards; sua noiva, Sue Storm; o irmão adolescente dela, Johnny Storm; e o piloto de foguetes Ben Grimm - embarcam num foguete experimental, voam para o espaço e são bombardeados por raios cósmicos. Ao voltarem para a Terra, descobrem que os raios cósmicos os afetaram, dando-lhes superpoderes.

Richards consegue esticar partes de seu corpo e assume o codinome Senhor Fantástico (qualquer semelhança com outro super-herói, o Homem-Borracha, não é mera coincidência); Sue se torna a Garota Invisível (anos depois, mudará o nome para Mulher Invisível, pois em nossos tempos "politicamente corretos" é considerado machismo chamar de "garota" uma mulher adulta); Johnny vira o Tocha Humana; e Ben, o monstruoso Coisa. Os raios cósmicos existem mesmo, mas na vida real eles matam, como seu professor ou professora de ciências poderá lhe explicar.

A corrida espacial não é a única alusão à Guerra Fria que encontramos nos primeiros gibis do Quarteto Fantástico. O principal inimigo do Quarteto era o Doutor Destino, que governava literalmente com mãos de ferro um pequeno país do Leste Europeu, bem na região onde se concentravam os países do bloco socialista.

Na tradução feita no Brasil, o nome dado ao país do Doutor Destino era "Latvéria", o que poderia levar a concluir que se tratava de uma terra imaginária. Mas, no original, o nome era "Latvia" - cuja tradução correta para o português é Letônia, na época uma das repúblicas que compunham a URSS. O próprio visual do vilão, com sua armadura de ferro, pode ser referência à "Cortina de Ferro", a expressão popularizada pelo ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill para se referir aos países da Europa oriental que ficaram sob influência da URSS após a Segunda Guerra Mundial.

O Incrível Hulk

O Incrível Hulk, segunda criação da parceria Stan Lee-Jack Kirby, também refletia o contexto da Guerra Fria. No primeiro número do gibi, lançado em maio de 1962, ficamos sabendo como o cientista Bruce Banner se tornou o Hulk: ele tenta salvar um adolescente que invadiu o local onde se testará pela primeira vez a "bomba gama" (projetada pelo próprio Banner) e fica exposto aos raios gama quando a bomba é detonada propositalmente por seu assistente, um espião iugoslavo disfarçado.

Banner, em vez de morrer de leucemia ou queimaduras radiativas (que é o que aconteceria na vida real), descobre que os raios gama alteraram a química de seu corpo. Agora, sempre que se enfurece, é humilhado ou entra em pânico, ele se transforma no Hulk, um brutamontes capaz de levantar toneladas. Curiosamente, o Hulk era para ser cinzento, mas falhas de impressão no primeiro número do gibi fizeram que ele aparecesse esverdeado em alguns quadrinhos. Assim, o verde se tornou sua cor definitiva.
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reprodução
Capa do n. 1 de O Incrível Hulk


Até o fato de Banner ser físico nuclear tinha relação com a Guerra Fria. Desde o Projeto Manhattan (o qual desenvolveu as bombas atômicas que foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki), os físicos nucleares tinham "importância estratégica" para o governo dos EUA. Vale recordar que, segundo alguns historiadores, as bombas atômicas usadas contra o Japão marcaram não apenas o fim da Segunda Guerra Mundial, mas o começo da Guerra Fria.

Segundo tal interpretação, o ataque a Hiroshima e Nagasaki teria sido a forma que os EUA encontraram de mandar o seguinte recado à URSS: "Cuidado conosco! Nós temos a bomba!" Depois disso, a procura por carreiras científicas, sobretudo em física nuclear, aumentou consideravelmente nas universidades norte-americanas. Bruce Banner, assim como os físicos do Projeto Manhattan, trabalha para os militares; e a "bomba gama" explode no deserto do Novo México, região dos EUA onde foram mesmo realizados os primeiros testes atômicos.

Outro elemento da Guerra Fria presente na saga do Hulk é o espião iugoslavo. Naquela época, histórias de espionagem eram comuns tanto na ficção quanto na realidade. Além disso, a Iugoslávia era um dos países do Leste Europeu onde os comunistas haviam chegado ao poder. (No entanto, os iugoslavos eram um caso à parte: o então governante do país, o marechal Tito, principal líder da resistência contra os invasores alemães durante a Segunda Guerra Mundial, não seguia todos os ditames da União Soviética; por isso, o modelo socialista adotado na Iugoslávia era um pouco diferente daquele que predominava nos outros países do Leste.)

Em suas primeiras aventuras, o Hulk enfrentou vários vilões comunistas, mas havia igualmente críticas aos EUA. Em primeiro lugar, porque o principal inimigo do Hulk era o general Ross, também pai da namorada de Banner. Ou seja, em muitas histórias do Hulk, o inimigo era o próprio Exército norte-americano, sempre perseguindo o gigante verde. E não se deve esquecer que o Hulk era um monstro criado pelo horror atômico. Ao conceberem a história, Stan Lee e Jack Kirby pretenderam transmitir uma lição de moral: Banner é vítima de uma arma que ele mesmo projetou, e o cientista sente remorsos por isso.

Túlio Vilela, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula" (Editora Contexto).
Fonte: Uol Educação

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Novo presidente da UNE promete postura independente

Apesar de ter liderado a chapa ligada a um dos partidos da base do governo, o PCdoB, o novo presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, disse que entidade terá uma atuação marcada pela independência. Segundo ele, a ideia é discutir todas as propostas da área educacional com a sociedade.
“Nem pensar [em ser chapa-branca]. Nossa relação com o governo vai ser independente, de respeito e de pressão em relação a todos os governos”, disse à Agência Brasil.
Entre as principais reivindicações da UNE na nova gestão estão a destinação de 50% dos recursos provenientes da exploração do petróleo na camada pré-sal para a educação, a criação de um pacto nacional contra o analfabetismo e o investimento, até 2014, de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em educação.
No Plano Nacional de Educação que tramita no Congresso, o governo propõe o investimento de 7% do PIB até 2020. “Reconhecemos que se trata de um avanço, já que hoje o investimento é de 5% do PIB. Mas é um avanço pouco ousado”, afirmou Daniel.
Daniel Iliescu foi eleito ontem (17) presidente da UNE para os próximos dois anos. Ele obteve 2,3 mil votos, o que representa mais de 75% do total. Aos 26 anos, Iliescu é ex-presidente da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro e estuda Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio. A eleição ocorreu durante o 52º Congresso da UNE, em Goiânia.

Fonte Agencia Brasil

Finalmente a porta da casa branca está entreaberta...

Ontem em reunião do departamento o diretor leu vários informes, inclusive  mostrou as finanças  do nosso departamento e disse que vai disponibilizar tudo no portal do Campus ou mandar por e-mail. Já não era sem tempo nós temos curiosidades .
Quanto indicação de Rogério, aluno do primeiro semestre para representar os discentes no Simpósio de Políticas Públicas que vai ocorrer dias 29,30 e 31 de agosto deste ano, em Salvador ao que pareceu,  não foi bem aceita pelo conselho. No momento da votaçao para referendar a escolha,  éramos somente 3 alunos de história e o professor Cancela. A maioria presente era do curso de Letras. Mas tinha também representantes do curso de turismo. Sendo letras a maioria, venceu a indicação deles, mas conseguimos que Rogério ficasse como suplente para o caso de Juliana, aluna indicada do curso de letras, não possa viajar. Ontem de noite no Campus, fonte fidelíssima assegurava que ela não irá. Mas aguardamos manifestaçao do diretor sobre este assunto.

Ainda sobre esta viagem,

O diretor Pedro Daniel, afirmou na reunião do conselho que apenas uma professora do Curso de Turismo respondeu manifestando o desejo de participar do evento. Nós de história estamos meio capengas. O que será que houve? Vamos ouvir nossos docentes?

 Reunião do Diretor Com alunos.

Sobre a reunião do diretor com alunos do campus, não teve grandes novidades.
Ele mostrou novamente as contas  e nós aproveitamos pra fazer alguns pedidos como por exemplo uma cobertura (área de convivência para nós alunos), pedimos (Quanto DA), que da mesma fonte que ele usa para bancar as passagens de professores concursados seja também usada pra promover alguns eventos pra nós, como palestras, seminários, minicursos etc. Ele citou a semana de vivências históricas que já é um evento que é feito com este dinheiro.  Mas só isso? Merecemos mais. Além disso, quero lembrar aqui que o ano passado a semana de Consciência Negra foi um evento aconteceu graças ao apoio do DA.

Curiosidade.

Nesta reunião, embora eu tenha dito que não houve novidades, o diretor revelou algo no mínimo curioso. Ele nos disse que tempos atrás, conseguira um ônibus para atender alunos do Campus e que os "DAS" de então, ficaram de fazer uma rota pela qual o ônibus deveria circular. Entretanto por motivos de discrepâncias entre aqueles que usariam a linha não houve um consenso, não foi feita a rota e o ônibus se perdeu por aí. Havia na sala pessoas do tempo destas representações do DA, que nada constestou. O fato é que  hoje quem depende de ônibus pra vir para o campus tem sofrido. É por isso que eu sempre digo: alunos se acheguem participem da vida política do Campus.

Alerta de Bertold Brecht

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.( Bertolt Brecht em seu famoso poema “O analfabeto político”.)

EM TEMPO:


Você sabia?
O campus XVIII não teve nenhum dos seus projetos de pesquisa aprovados pela FAPESB. Vergonha, vergonha. Esta demonstração de descaso e abandono com no nosso Campus é uma boa oportunidade para refletirmos sobre o tipo de política que queremos para nós daqui do XVIII.
Estudantes de história e de outros cursos também, vamos cobrar maior empenho do nosso diretor em favor de nós. "Quem sabe faz a hora não espera acontecer". O ano que vem tem eleições para diretor. Nossa hora é agora. Do jeito que está não iremos a lugar algum. Historiadores do XVIII UNIE-VOS...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Comunicado

Recebemos ontem dia 19/07/2011 por vota das vinte horas e trinta, correspondência do DCHT e  da direção do Campus XVIII pedindo que fosse feita a escolha de um representa discente para a 1ª Conferência de Ações Afirmativas da UNEB, que acontecerá no Campus I, nos dias 29, 30 e 31 de agosto do corrente ano. Ainda nesta correspondência foi informado que esta indicação (não mais escolha?) deveria ser feita até hoje dia 20/07/2011 já que a mesma deverá ser apreciada amanhã dia 21/07/2011 em reunião do conselho departamental.
Sabemos que muitos estão questionando o corrido do tempo. Nós também questionamos e por isso estamos aqui através desta nota, pra justificar que por conta disso também, ontem foi escolhido o nome de ROGÉRIO SOUZA SANTOS, aluno do primeiro semestre por entendermos ele que se articula bem politicamente com a comunidade do campus XVIII, é popular e dispõe de tempo pra ficar ausente durante os três dias necessários para o cumprimento desta missão.

DA DE HISTÓRIA DA LUTA NÃO NOS RETIRAREMOS NUNCA!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Marighella e Prestes entrarão para o livro "Heróis da Pátria"

Um projeto de lei (nº 1771/2011) que inscreve os nomes dos já falecidos comunistas brasileiros Carlos Marighella e Luis Carlos Prestes no livro dos "Heróis da Pátria", depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília, foi apresentado na Câmara Federal pelos deputados Emiliano José (PT-BA) e Edson Santos (PT-RJ).
Emiliano José fez parte do combate contra a ditadura militar, foi preso político por quatro anos, torturado, participou de movimentos políticos e jornais clandestinos à época e escreveu diversos livros sobre o assunto, sendo um deles "Carlos Marighella: O inimigo número um da ditadura militar".

O parlamentar credita a Carlos Marighella e Luis Carlos Prestes o título de Heróis da Pátria por suas importantes e marcantes passagens na história do Brasil. "Eles estão entre os principais nomes na luta revolucionária, comunista, democrática, patriótica e socialista no País. Seus nomes jamais serão apagados da história, da memória do povo brasileiro", justificou.

Emiliano afirma que tanto Prestes quanto Marighella participaram decisivamente da vida política do País. "Prestes desde os anos 20 e Marighella a partir dos anos 30. Se encontram nos anos 30 no PCB. Depois foram presos e a partir daí passaram a militar juntos. Até o fim da vida se dedicaram à luta democrática. Se encontraram na reta final da vida.

O essencial é que foram lutadores da liberdade e democracia, independente das diferenças momentâneas".

Fonte: Site Oficial do PT na Câmara Federal/Assessoria Parlamentar

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Quadrinhos e 2ª Guerra Mundial

Capitão América e os roteiristas judeus

Túlio Vilela*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Capitão América acerta um soco em Hitler

Sete de dezembro de 1941 foi a data em que ocorreu o ataque japonês a Pearl Harbour, base militar norte-americana localizada no Havaí. Após esse ataque, os Estados Unidos entraram oficialmente na Segunda Guerra Mundial. Na vida real foi assim, mas nos quadrinhos norte-americanos, os super-heróis já estavam lutando contra as potências do Eixo (a aliança formada pela Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão) meses antes do ataque.

Capitão América

O primeiro gibi do Capitão América, por exemplo, foi publicado em março de 1941. O Capitão América não foi o primeiro super-herói dos gibis norte-americanos (o Super-Homem já havia aparecido em 1938), mas ele foi um dos primeiros a trazer histórias mais engajadas na luta contra o nazismo e inspirou inúmeras imitações. Foi quando se tornaram comuns gibis que traziam capas com os heróis socando ou ridicularizando os ditadores do Eixo: Hitler e seus aliados, Mussolini, ditador italiano, Tojo, primeiro-ministro japonês na época do ataque a Pearl Harbor, e o então imperador japonês Hiroíto.

O Caveira Vermelha, um supervilão nazista

Criado pela dupla de desenhistas Jack Kirby e Joe Simon, o Capitão América tinha como seu principal inimigo o Caveira Vermelha, um supervilão nazista. No entanto, na aparência, o Capitão América era muito mais parecido com o ideal de "raça pura" dos nazistas do que o Caveira Vermelha: era alto, forte, tinha olhos azuis e, por debaixo da máscara, o seus cabelos eram loiros, ou seja, o padrão de beleza nórdica que Hitler tanto admirava.

Na vida real, os nazistas jamais teriam como símbolo um soldado que usasse uma máscara em forma de caveira, até porque em suas peças de propaganda, os nazistas gostavam de retratar a si mesmos como belos e simpáticos, enquanto que os judeus eram retratados com aparência monstruosa.

Quando foram lançados os primeiros gibis mostrando o Capitão América e outros super-heróis lutando contra o Eixo, uma boa parte da população norte-americana ainda defendia a idéia de que os Estados Unidos deveriam ficar afastados do conflito. Isso apesar do fato de que antes mesmo do ataque a Pearl Harbour, o governo norte-americano já apoiava indiretamente a Inglaterra, que estava em guerra com a Alemanha desde 1939.

Roteiristas e desenhistas judeus

Por que os criadores desses gibis tomaram partido e assumiram sua simpatia por um dos lados num momento em que muitos de seus compatriotas preferiam manter a neutralidade? Em primeiro lugar, porque os nazistas davam ótimos vilões para as histórias. Afinal, o que seria dos gibis de super-heróis sem os vilões? Em segundo, mas não menos importante, estava o fato de que boa parte dos criadores desses gibis tinha razões pessoais para fazer propaganda contra o nazismo: boa parte deles eram judeus, que eram as principais vítimas do ódio dos nazistas.

Muitos desses roteiristas e desenhistas eram filhos ou netos de imigrantes judeus pobres que, para fugir de perseguições na Europa, resolveram migrar para os Estados Unidos. Eles estavam preocupados com a situação dos familiares que viviam na Europa. Entre os roteiristas e desenhistas judeus estavam: Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores do Super-Homem, Bob Kane, o criador de Batman, Jack Kirby, co-criador do Capitão América e de vários outros personagens, e Will Eisner, o criador do Spirit, detetive mascarado do qual algumas aventuras figuram, segundo vários críticos, entre as maiores obras-primas dos quadrinhos.

Discriminação racial

Para fugir da discriminação que os judeus também enfrentavam nos Estados Unidos, alguns desses criadores mudaram seus nomes ou adotaram pseudônimos que escondiam sua origem judaica, dentre eles, Bob Kane, cujo nome verdadeiro era Robert Kahn, e Jack Kirby, cujo nome verdadeiro era Jacob Kurtzberg.

Duas boas dicas de leitura que retratam tanto a indústria dos gibis quanto a vida da comunidade judaica nos Estados Unidos daquela época são "No coração da tempestade", autobiografia em quadrinhos de Will Eisner, que chegou a ser publicada no Brasil pela Abril Jovem, e "As aventuras de Kavalier e Klay", romance do escritor norte-americano Michael Chabon, publicado no Brasil pela Editora Record, que conta a história de uma dupla de primos judeus, que juntos criam um super-herói.

O Príncipe Submarino e o Tocha Humana

O Tocha Humana e Namor, o Príncipe Submarino, ambos criados em 1939, estão entre os heróis cujas aventuras mais refletiram o clima político da época. Apesar de água e fogo não se combinarem, esses dois heróis se aliaram várias vezes em aventuras que tinham os nazistas e os japoneses como vilões. Inicialmente, Namor estava mais para vilão do que para herói, pois, por onde passava, espalhava destruição e pânico (para defender seu reino submerso da Atlântida, ele havia declarado guerra a todos os povos da superfície).

No entanto, com a guerra, Namor decidiu ficar do lado dos Aliados, porque julgava o Eixo uma ameaça maior para a Atlântida. Nestas aventuras, também era comum a participação do Capitão América e de Buck, seu ajudante (da mesma forma como o Robin é o ajudante do Batman). Numa dessas histórias, os heróis impediram que soldados alemães e japoneses invadissem a América por meio de um "túnel subterrâneo" (!) construído no Estreito de Bering.

Essa história merece atenção por dois detalhes. Em primeiro lugar, porque apesar de o Japão e a Alemanha nazista terem sido aliados durante a Segunda Guerra Mundial, na vida real essa aliança foi bem menos "entrosada" do que a mostrada no gibi, pois, as forças armadas dos dois países jamais participaram de uma operação militar conjunta. Na vida real, Japão e a Alemanha nazista lutaram contra os Estados Unidos em fronts separados.

O segundo detalhe é que a aventura dos heróis reflete um medo comum entre parte da população norte-americana depois do ataque a Pearl Harbor: o medo de uma invasão alemã ou japonesa nos Estados Unidos, embora isso fosse bastante improvável, pois nem a Alemanha e nem o Japão dispunham de recursos para enviar aviões que pudessem bombardear as cidades norte-americanas.

Blecaute no Brasil

Vale lembrar que esse medo existiu também no Brasil, após submarinos alemães terem torpedeado navios mercantes brasileiros, mas assim como no caso dos Estados Unidos, era bastante improvável, para não falar impossível, que aviões alemães conseguissem viajar da Europa para a América do Sul com o objetivo de bombardear alguma grande cidade brasileira (apesar disso, após a entrada do Brasil na guerra, as autoridades brasileiras ordenaram blecaute em várias cidades litorâneas, para evitar que se transformassem em alvos de ataques aéreos noturnos).
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reprodução
O Tocha Humana enfrenta os japoneses


Outro aspecto da Segunda Guerra Mundial que é possível perceber nos gibis da época é que o racismo não foi exclusivo do Eixo, também existia no lado adversário, o dos Aliados. Nos gibis norte-americanos, os japoneses costumavam ser quase sempre retratados como anões monstruosos, dentuços e com óculos fundo de garrafa. Na verdade, muito antes de Pearl Harbor, vilões com traços asiáticos já eram comuns nos quadrinhos norte-americanos.

Entre esses vilões, podemos destacar, Ming, o Impiedoso, o principal inimigo do herói espacial Flash Gordon, que apareceu pela primeira vez nos jornais em 1934, e os Singh, piratas chineses que tinham como inimigo o Fantasma, herói mascarado que estreou nas tiras dos jornais em 1936. A diferença é que antes de Pearl Harbour, os heróis asiáticos eram, em sua maioria, chineses. Depois, passaram a ser japoneses. Os chineses como eram inimigos dos japoneses, portanto aliados dos norte-americanos, deixaram, por algum tempo, de ser vilões nos quadrinhos da terra do Tio Sam.

Raridade e reciclagem

Curiosamente, poucos exemplares dos gibis norte-americanos dessa época chegaram aos nossos dias. A principal razão é que para ajudar no esforço de guerra, o governo dos Estados Unidos pedia para as pessoas jogarem fora as revistas para que o papel fosse reciclado. Afinal, em tempos de guerra, tudo é racionado, inclusive o papel. Por isso, quem tiver em mãos um gibi daquela época (não vale fac-símile) em bom estado de conservação, pode vendê-lo por um bom preço ou mesmo por uma fortuna. Alguns chegam a ser vendidos por quantias superiores a 25 mil dólares!

Praticamente todos os gibis da época trouxeram aventuras mostrando os heróis engajados no esforço de guerra. O que obrigava os roteiristas a bolarem as desculpas mais absurdas para explicar porque a Segunda Guerra só terminou em 1945 e não em cinco segundos. Afinal, se os super-heróis existissem mesmo, teria sido bem mais fácil pra derrotar o Eixo. Com Super-Homem e companhia do seu lado, quem precisa de
bombas atômicas?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A maconha e a marcha

por Carlos Orsi


O fato de as chamadas “marchas da maconha” ainda serem consideradas “polêmicas” é um dos sinais do quanto ainda estamos longe de uma cultura democrática digna do nome. O direito dos cidadãos de protestar pacificamente para pedir mudanças na lei é um dos pilares da democracia moderna. Na Carta de Direitos da Constituição dos EUA, aparece logo no primeiro item, junto da liberdade de expressão e de religião, mas aqui no Brasil as pessoas ainda parecem achar que liberdade de manifestação é liberdade de manifestar concordância com o senso comum (ou, pelo menos, com um lobby bem endinheirado).
Claro, em sendo a manifestação uma passeata, as autoridades têm de levar uma série de fatores em consideração antes de autorizá-la, mas esses fatores são (ou deveriam ser) o impacto do evento na vida da cidade e no direito de ir e vir dos demais cidadãos e não, ora bolas, o tema da manifestação em si. (Cá entre nós, a lei brasileira contra a “apologia do crime” é mais uma mordaça discricionária à disposição do Judiciário do que uma tentativa real de evitar à incitação ao ilícito.)
Tendo dito tudo isso, ressalvo que defender o direito à marcha não significa concordar com a petição que a marcha busca promover. O debate sobre a descriminação da maconha (e das drogas em geral) é cheio de paixões e posições hidrófobas — de ambos os lados, diga-se, embora a ala conservadora tenha mais espaço na mídia.
O argumento mais repetido pelos adversários da legalização da maconha é o da “porta de entrada” — a maconha seria um primeiro passo para o mergulho no mundo das drogas pesadas. No entanto, um estudo publicado em 2003 demonstra que, embora o efeito “porta de entrada” seja plausível, os argumentos usados para defendê-lo também justificam uma hipótese alternativa — a de que existe um tipo de personalidade com propensão ao uso de drogas, e que pessoas com esse tipo de personalidade tendem a buscar substâncias cada vez mais pesadas. Diz o texto:
O estudo demonstra que a associação entre maconha e o uso de drogas pesadas pode ser esperado mesmo se a maconha não atuar como porta de entrada. Em vez disso a associação pode resultar das diferenças de idade em que os jovens têm oportunidade de usar maconha ou drogas pesadas, e variações conhecidas na disposição dos indivíduos de buscar drogas.
De acordo com um dos autores, “pessoas predispostas a usar drogas e com a oportunidade de usar drogas têm maior probabilidade do que outros de usar tanto maconha quanto drogas pesadas (…) A maconha tipicamente vem primeiro porque está mais disponível”.
Eu, de minha parte, me pergunto até que ponto esse efeito “porta de entrada”, se é que existe, não deriva exatamente do fato de que a maconha é ilegal. Hoje em dia, o mesmo traficante que oferece cannabis provavelmente também tem acesso a cocaína, por exemplo, e está disposto a oferecê-la ao cliente; mas se os cigarros de maconha fossem legalmente vendidos em padarias, é improvável que a mocinha do caixa também tivesse papelotes escondidos debaixo dos drops de horletã.
Já um argumento que comumente aparece na boca dos defensores da erva é o de que a maconha pode ser benéfica para a saúde, e certamente é menos maléfica que o cigarro. Embora algumas partes do mundo aceitem o uso de maconha com fins medicinais — para reduzir a pressão intraocular de pacientes de glaucoma ou como sedativo em casos de doentes terminais — a alegação de que a cannabis é menos prejudicial que o tabaco não se sustenta.
Estudos publicados nas últimas décadas mostram que a maconha aumenta o risco de câncer de pulmão, que o alcatrão da maconha se acumula mais nos pulmões que o do tabaco e que a cannabis representa um perigo para a sobrevivência de pessoas com problemas cardíacos. Numa nota subjetiva e totalmente pessoal, acrescento que a fumaça da maconha fede muito mais que a do cigarro (ao menos na minha época, era impossível estudar Jornalismo sem acabar exposto a ambos os tipos de nuvem tóxica).
Dada a a falta de substância das alegações de parte a parte, como ficamos?
Uma coisa que causa — ou deveria causar — estranheza na questão das drogas é o simples fato de haver drogas proibidas. Na tradição liberal, todo ser humano é proprietário do próprio corpo, e faz com ele o que quer, desde que não cause dano à vida ou à propriedade de outras pessoas. Quem, portanto, é o governo para dizer o que um cidadão pode ou não consumir? Por que homens e mulheres livres e maiores de idade toleram que o Estado determine o que podem ou não introduzir em suas veias, pulmões ou narinas?
Drogas de uso dito “recreativo” afetam o indivíduo e a sociedade. Os efeitos no indivíduo são os que se fazem sentir sobre sua saúde, sua capacidade de gerar renda, seu círculo de relações, seu livre arbítrio; na sociedade, são os que afetam os sistemas de saúde pública, a economia, a segurança pública e, claro, o aparato policial-judicial. O poder do Estado de proibir algumas drogas busca justificativa nessas duas dimensões.
Na dimensão individual, a proibição das drogas se apoia nos argumentos do dano e do vício. O argumento do dano alega que a droga faz mal à saúde, e que o Estado tem o dever de proteger a saúde de seus cidadãos; o do vício, que a droga gera dependência, o que faz com que o usuário deixe de ser um agente livre e, portanto, passe a precisar da proteção paternal do Estado na supressão da substância viciante. Esses são talvez os argumentos mais fracos pró-proibição. Aceitos, eles requerem não só o veto à maconha, à cocaína e à heroína, mas também ao tabaco, ao álcool e ao café, sem falar na carne vermelha e no chocolate.
Na dimensão social, a proibição se apoia nos custos — econômicos e emocionais — da droga, do tratamento dos problemas de saúde que ela causa, da perda de vidas e de produtividade dos usuários e dos elos entre a droga e o crime, principalmente o crime organizado. O ponto saliente dessa linha argumentativa é que, com exceção da questão do crime organizado, todos os problemas citados também existem em relação ao álcool e ao tabaco, ambas drogas aceitas e toleradas. O alcoolismo destrói famílias, alcoólatras às vezes reduzem-se a mendigos ou ladrões para sustentar o vício, o álcool gera absenteísmo no trabalho. O tabaco reduz a expectativa de vida, a produtividade, e a nicotina é uma das substâncias mais viciantes conhecidas. Esses custos sociais são assimilados pela comunidade, como um todo, em nome do respeito pela liberdade individual.
Parece-me que o ponto que distingue o impacto social das drogas ilegais das legais — o crime organizado — é fruto direto, e não causa, da proibição. Como já disse um historiador americano, antes da Lei Seca, a máfia prestava serviços aos políticos; depois dela, os políticos passaram a prestar serviços à máfia.
É por isso que não creio que houvesse traficantes ma Marcha da Maconha. Eles certamente não querem a concorrência da Souza Cruz.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aos Mestres, com Carinho!

 
Porque não aceitei o prêmio do PNBE

 
Oi,
 
Nesta segunda, o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda

Natal, 02 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 10 de julho de 2011

A Vitória de Orwell


por Fernando da Mota Lima

George Orwell é um desses raros escritores que se tornam parte de todo um clima de opinião. Aviso ao leitor que esta expressão é traduzida de um poema de Auden: “In Memory of Sigmund Freud”. Talvez a maior evidência de tão elevado status consista no fato de que escritores dessa natureza influenciam a linguagem usada até pelos que nunca os leram, até por aqueles inconscientes de uma obra como 1984, e de personagens e conceitos como Big Brother, Polícia do Pensamento, Pensamento Duplo etc.
Aviso novamente o leitor que traduzo aqui livremente conceitos fundamentais de 1984 sem cotejá-los com a tradução brasileira deste livro emblemático do pensamento antiutópico. Melhor diria se usasse a expressão pensamento antitotalitário, pois Orwell nunca renunciou ao seu ideal de socialismo libertário, que é ainda um modo de ser utópico. Em suma, você fala de Orwell mesmo sem saber quem é ele, mesmo ignorando sua obra que exerceu e exerce ainda um papel decisivo no clima de opinião dominante na história contemporânea assaltada de modo catastrófico por totalitarismos de esquerda e direita.
Orwell é talvez a mais alta expressão do intelectual independente que conheço. Não me esqueço de que alguns leitores puxaram minha orelha quando usei o conceito de intelectual independente para criticar a conivência de José Saramago com regimes totalitários ou ditatoriais de esquerda. Há quem considere a relação do intelectual com o partido, ou mais amplamente com a realidade política, e conclua em termos simplistas que não existe tal coisa, isto é, você é sempre contra ou a favor, está com o partido X ou com o partido Y. Essa linha de argumentação é claramente maniqueísta e assim estamos conversados. Você está com o bem ou com o mal e assim qualquer nuance, qualquer possibilidade de inserção entre os dois extremos excludentes é automaticamente suprimida.
A grandeza ética e política de Orwell – ou sua vitória, assim traduzo o sentido do livro que Christopher Hitchens lhe dedica – reside na sua capacidade extraordinária de denunciar o totalitarismo gestado pelos ideais utópicos da esquerda (o nome mais simples desse Big Brother é Stálin), sem renunciar a suas convicções socialistas e libertárias. É claro que este fato foi refutado por seus críticos à esquerda e à direita. Os primeiros o perseguiram e caluniaram por supostamente trair a esquerda, ou fazer o jogo do inimigo; os segundos tentaram apropriar-se de Animal Farm (A Revolução dos Bichos) e 1984 como se fossem simplesmente obras anticomunistas. O fato ilustra admiravelmente o quanto é difícil ser independente, mas não anula a possibilidade da independência ideológica do intelectual. Orwell converte a possibilidade em fato.

-- Christopher Hitchens --
Um dos grandes méritos do livro de Christopher Hitchens, herdeiro do jornalismo libertário patente na obra de Orwell, consiste precisamente em demonstrar como Orwell foi incompreendido ou mesmo caluniado por grandes intelectuais de esquerda. O exemplo mais documentado no livro é o de Raymond Williams, que ocupa no Olimpo da esquerda inglesa papel semelhante ao de Antonio Candido na esquerda brasileira. Lembro-me ainda, introduzindo aqui um grão de memória pessoal, de um ano remoto, talvez 1990, quando compareci a um seminário marxista na Universidade de Londres. Assistindo aos debates acalorados em torno da figura de Orwell, notei o quanto ele ainda dividia os marxistas e outras correntes do pensamento de esquerda.
Acredito que hoje, diluídos os embates ideológicos que incendiaram as lutas políticas durante tantas décadas sangrentas, a obra de Orwell já não provoque reações maiores, divisões do tipo a que assisti no Brasil e na Inglaterra. Mas lembro ao leitor jovem que no Brasil sua obra foi implacavelmente rejeitada e caluniada. Friso que me refiro mais precisamente às duas obras acima citadas, pois é nelas que Orwell concentra sua força satírica contra o totalitarismo, é nelas que investe contra a opressão exercida em nome de ideais libertários. Assim como a direita procurou apropriar-se dessas obras como se fossem simplesmente anticomunistas, confundindo assim de forma desonesta sua crítica ao stalinismo com uma crítica à esquerda em geral, a esquerda identificada com o stalinismo tudo fez para rejeitar e suprimir sua crítica ao totalitarismo. Aliás, conviria lembrar que o totalitarismo não se esgota nas suas mais extremas e terríveis materializações na história do século 20: o nazismo, à direita, e o stalinismo, à esquerda. Resumindo, o intelectual que ousa ser independente leva pancada de todos os lados.
Como acabo de observar, a crítica de Orwell ao totalitarismo não se esgota nos alvos que prioritariamente visou: o nazismo e o stalinismo. Sem querer banalizar o conceito, alerto para o fato de que a tentação totalitária está sempre presente no imaginário dos extremistas e dogmáticos, nos fundamentalistas de qualquer natureza, assim como nas forças de reificação inerentes ao capitalismo. Somente um tolo ou inconsciente suporia que essas forças desapareceram do mundo em que vivemos simplesmente porque o triunfo do capitalismo de consumo e da cultura narcisista pulverizou qualquer possibilidade de pensamento totalitário. Aliás, bastaria imaginar o que Orwell diria sobre a forma como seu símbolo supremo da sociedade totalitária, o Big Brother, foi apropriado pela cultura de massas do presente. Quanto ao conceito de Newspeak, ou Novilíngua, tão engenhosamente ilustrado em 1984, bastaria pensar em expressões hoje correntes como “fogo amigo”, “terceira idade”, “boa idade”, “Brasil, um país de todos” e “sorria, você está sendo filmado”. Estes poucos exemplos da Novilíngua que irrefletidamente reproduzimos constituem algumas evidências exemplares do uso corruptor da língua, da mentira e da alienação disseminadas através da indústria publicitária e marqueteira administrada como o ópio da cultura de massas. Portanto, a vitória de Orwell é apenas parcial, já que a possibilidade ou mesmo o risco da tentação totalitária nunca desaparecem do horizonte da história humana. Acredito que esta era a convicção de Orwell, até porque ele foi um pessimista impenitente. Ele é a prova viva, talvez pouco comum, do pessimista ativo ou militante, do pessimista superado pela vontade de ação sobre o mundo incompatível com qualquer ideal utópico.
Christopher Hitchens descreve e analisa no seu livro múltiplos aspectos da obra de Orwell além do que centralmente me ocupou neste texto que é antes um breve artigo inspirado pela leitura de sua obra do que propriamente uma resenha. Sendo assim, contempla não apenas traços relevantes da biografia de Orwell, mas também sua relação com o imperialismo inglês, temperado por sua discutida anglicidade, com os Estados Unidos, com as feministas, os pós-modernistas etc. Convém todavia ressaltar que o livro de Hitchens é antes de tudo uma consistente apreciação da obra de Orwell centrada na sua dimensão intelectual e ideológica. Para o leitor que lê fluentemente inglês, recomendaria as biografias escritas por Bernard Crick e Michael Shelden. O melhor de Orwell, na minha opinião, está nos seus ensaios postumamente reunidos e publicados pela Penguin Book. Também sua obra de jornalista e suas cartas foram reunidas e publicadas pela mesma editora.
No Brasil, a Companhia das Letras publicou uma seleção que abriga praticamente seus melhores ensaios. Salvo engano, cito de memória, a seleção e o prefácio do volume foram obra de Daniel Piza. Acrescentaria, como indicação para o leitor curioso, que em 1986 Ken Loach dirigiu o filme Terra e Liberdade, baseado em Homage to Catalonia (Homenagem à Catalunha, traduzido no Brasil sob o título Lutando na Espanha). Esta é uma das obras fundamentais de Orwell, diretamente inspirada na sua participação na Guerra Civil Espanhola.. Ele se alistou como combatente do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), corrente de tendência trotskista que acabou esmagada pelos franquistas, de um lado, e pelos stalinistas, de outro. Foi aí que Orwell sentiu na própria pele o que de fato significava stalinismo. Indicaria ainda o último capítulo de A History of Britain, de Simon Schama, também lançado em DVD no mercado brasileiro. O título do capítulo é “Os dois Winstons”, alusão a Winston Churchill e a Winston Smith, protagonista de 1984.
Concluindo, se você quer ter sucesso na vida, sobretudo na vida política, não incorra na insensatez de seguir o exemplo de George Orwell. Ele rompeu com o imperialismo inglês, dentro do qual foi educado para agir no mundo como um instrumento dócil da dominação imposta a povos colonizados; mergulhou no mundo da miséria e da marginalidade social para escrever de forma honesta e documentada sobre párias e trabalhadores esfolados pela espoliação capitalista; foi perseguido e caluniado por ousar denunciar o totalitarismo de esquerda numa época em que a maioria dos intelectuais de esquerda se aliavam ao stalinismo ou eram usados como inocentes úteis, e por fim morreu relativamente pobre e jovem. Tudo que nos transmite como legado ético através de sua obra é a convicção e a coragem com que lutou em defesa das coisas em que acreditava e uma noção de integridade rara entre intelectuais. Como notamos, o legado de Orwell não é nada atrativo para os tempos em que vivemos.

::: A vitória de Orwell ::: Christopher Hitchens ::: Cia. das Letras, 2010, 208 páginas

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Reitor anuncia verba para Uneb

R$ 17 mi para investimento

Na Reunião administrativa  que deu  seguimento ao debate sobre calendário acadêmico o reitor Lourisvaldo Valentim informou de que a Reitoria, por intermédio das pró-reitorias de Planejamento (Proplan) e de Administração (Proad), conseguiu antecipar, junto ao governo do estado, a liberação de parcelas do quadro de cotas mensais (QCM) da universidade.

Reitor Lourisvaldo Valentim
Reitor Valentim elogiou o trabalho dos diretores e assegurou cooperação da administração central

“Com essas cotas, vamos dispor de cerca de R$ 17 milhões para investimento até o final do ano. Para isso, precisamos que todos os diretores e suas equipes se empenhem ainda mais para executar esses recursos em tempo hábil”, 
solicitou o reitor.
De acordo com Valentim, o montante disponível deverá ser utilizado para compra de livros (R$ 2 milhões), construção de laboratórios para cursos de graduação (R$ 3 milhões), finalização das obras de infraestrutura (R$ 4 milhões), pesquisa e pós-graduação (R$ 2 milhões), compra de oito ônibus para as Redes de Gestão Departamental (RGDs) da universidade (R$ 2,1 milhões), aquisição de carteiras escolares (R$ 3 milhões) e publicação de trabalhos científicos pela Editora UNEB (R$ 750 mil).
Um modelo da nova carteira para as salas de aula dos campi da universidade, bem como outros investimentos na área de tecnologia, foi apresentado pelo diretor da Unidade de Desenvolvimento Organizacional (UDO), Djalma Fiuza.
O pró-reitor Luiz Paulo Neiva (Proplan) adiantou que, para 2012, a previsão é de que a UNEB consiga ampliar para R$ 51 milhões as dotações destinadas a investimento. “Agora precisamos implementar estratégias para qualificar e agilizar a utilização desses recursos”, pontuou.
Diretor Dorival Oliveira (DEDC/Campus VIII)
Dorival Oliveira: encontros como esse são muito importantes para discutir os entraves
Luiz Paulo informou que, para tratar dessas questões, a Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (PGDP) e a Proplan estão programando a realização de oficinas de execução orçamentária e financeira com os técnicos administrativos dos departamentos da instituição. O primeiro encontro está previsto para o dia 18 do próximo mês.
Dorival Oliveira, diretor do Departamento de Educação (DEDC) do Campus VIII (Paulo Afonso), avaliou positivamente a iniciativa para otimizar a gestão nos departamentos. “É muito importante esses encontros e oficinas. Precisamos discutir e encontrar soluções compartilhadas para os entraves que muitas vezes emperram um melhor funcionamento da nossa universidade”, contou.
Os diretores voltam a debater a gestão universitária nos dias 7 a 9 de julho, no Fórum de Diretores, que pela primeira vez será realizado no campus de Paulo Afonso.

Eleição para vice

Na ocasião também foi apresentado o novo calendário do processo eleitoral para o cargo de vice-reitor da UNEB após a greve docente.
De acordo com o novo cronograma do pleito, apresentado pelo presidente da Comissão Eleitoral, Antonio Amorim, a videoconferência com os dois candidatos ao cargo está agendada para o próximo dia 11 e a votação acontece no dia 14, sendo que a campanha eleitoral será encerrada dois dias antes (12).
A UNEB também está preparando para o próximo mês a I Conferência Universitária de Ações Afirmativas, que tem a organização do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia) e do grupo de pesquisa Pós-colonialidade, educação, história, cultura e ações afirmativas (Firmina) da universidade. A programação do evento foi apresentada pelo assessor especial da Reitoria, Wilson Mattos, que também é diretor do Cepaia.
Na área da extensão universitária, está prevista a realização de um congresso em outubro e a publicação da Revista da Proex, que vai divulgar as ações extensionistas desenvolvidas pela UNEB, que alcançam atualmente mais de 400 municípios baianos.
A pauta da reunião administrativa incluiu ainda a apresentação do projeto de acessibilidade para todos os campi da universidade, demandas de residências universitárias e casa do professor, jornada de iniciação científica, entre outros temas.

CÁLICE (de chico b. e g. gil) versão ao vivo Milena Torres Bem Acompanhada


Para ouvir  esta, pause o dispositivo de música da barra lateral

Jequitinhonha é palco do 29°

O FESTIVALE a grande festa da cultura dos sertões do Vale do Jequitinhonha acontecerá este mês. Quem puder "rumar" as malas e ir, vai apreciar um evento sem igual!

O Vale do Jequitinhonha já tem uma nova capital cultural. De 24 a 30 de julho, a cidade de Jequitinhonha recebe o maior festival da cultura da região, o 29º Festivale. O tema deste ano é “Jequitinhonha cidade cultural: memória e sustentabilidade de um povo”.

O Festival que já tinha acontecido no município em 1991 e 1996, assume agora um papel ainda mais especial. O evento integra a programação do bicentenário da cidade, que será comemorado no mês de setembro.

29º Festivale

Na programação destacam-se apresentações musicais de artistas da região, oficinas, apresentações de grupos folclóricos e teatrais, concurso de poesia, feira de violeiros e sanfoneiros, mostra de vídeo e fotografias, além de uma grande feira com o melhor do artesanato regional. As atividades seguem ao longo do dia e em parte da noite também.
Todos os eventos são abertos ao público. Os interessados em participar do Festival de Música e da Noite Literária já podem se inscrever no portal da Fecaje (www.fecaje.org.br). As inscrições custam R$ 20 e vão até o dia 10 de julho.
Realizado pela Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha – Fecaje, o 29 º Festivale conta com a parceria da Prefeitura de Jequitinhonha, do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e do Instituto Cultural Vale Mais.
Festival de Música
Festival competitivo que reúne vários artistas populares de todo o Vale. O principal objetivo do evento é promover novos artistas, incentivando suas carreiras, por meio de premiações para os três primeiros colocados e também para o melhor intérprete e melhor arranjo. O Festival de música dura três dias. Entre os talentos revelados por este festival estão Paulinho Pedra Azul, Rubinho do Vale, entre outros.

Noite Literária
Durante o concurso de poesias são realizadas apresentação e leituras literárias com o objetivo de resgatar e valorizar a linguagem escrita que é uma importante forma de manifestação cultural da região. O evento lança também novos escritores regionais, premiando os três primeiros colocados e o melhor intérprete.

Sobre o Festivale

Em 1979, o I Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha mostrou a seus produtores a riqueza da cultura popular do Vale e que já era hora dela começar a ocupar o espaço que lhe cabia no cenário mineiro, brasileiro e mundial. Em 1980, aconteceu então a primeira edição do Festivale na cidade de Itaobim, com o slogam “Vale, vida, verso e viola”, que até hoje acompanha o festival. A cada ano, o evento acontece em um município do Vale que simbolicamente é considerado a capital cultural da região. De lá pra cá, o Festivale cresceu, se diversificou e a cada edição amplia seu público sem perder de vista sua proposta principal: atuar política e culturalmente .


Suporte de Comunicação do Programa Polo
Contatos:
Erick Sanderson e Conrado Moreira – Bolsistas do Programa Polo: (31) 3409-4067
Ângela Gomes – Fecaje: (33) 9989-5780
Breno Antunes – secretário de cultura de Jequitinhonha: (33) 9977-8416


Sites
Assessoria de Comunicação Colaborativa Jequitinhonha 200 anos
www.jequi200anos.com.br

Portal Polo Jequitinhonha
www.ufmg.br/polojequitinhonha

Site Fecaje
www.fecaje.com.br

Concurso Público: 03 Vagas para Uneb Eunápolis

Foi publicado no D.O. do dia 20/06 concurso para cadastro de reserva da UNEB.

As inscrições vão de 11/07 a 08/08. Tem três vagas de Assistente para Eunápolis.

Confiram no endereço abaixo:


http://www.uneb.br/files/2011/06/EDITAL-Concurso-Docente-Assistente_Auxiliar.pdf

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Michel Foucault - História da loucura



Michel Foucault - História da loucura

Está fora de dúvida, hoje, de que a filosofia moderna tem em Michel Foucault um de seus pensadores mais representativos, um de seus “clássicos”. E a História da Loucura, continuamente refocalizada em toda a parte, vem mantendo a condição de obra que expressa aspectos fundamentais desse universo de pensamento. Mais do que isso, deve-se ressaltar o efeito revolucionário de seu discurso, à medida que pôs em xeque concepções longamente firmadas sob o rótulo de verdades científicas, como no campo da medicina psiquiátrica, em que sua análise crítica atingiu gravemente a operacionalidade terapêutica das noções tradicionais de sanidade e loucura. Assim, não é de admirar que no Brasil o seu impacto se fizesse sentir; não só nos estudos acadêmicos de filosofia, medicina, psicologia, ciências sociais, direito e outras áreas afins, como na prática legislativa, pedagógica, psicoterápica, médica e na formação de condutas sociais e políticas. E a Editora Perspectiva sente-se orgulhosa em contribuir para a divulgação desse livro ímpar, em nosso idioma e para nossa sociedade, mantendo-o à disposição de nossos leitores, em constantes reimpressões

BAIXAR AQUI

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Choque de Civilizações




por Daniel Lopes

A polêmica teoria de Samuel P. Huntington (1927-2008) foi expressa primeiro em um artigo de 1993 na Foreign Affairs – em resposta à teoria do “fim da história” de Francis Fukuyama – e depois no livro The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order, de 1996. A edição brasileira de 1997 virou agora volume de bolso, tornando a obra mais acessível.
Nela, o autor apresenta as civilizações hoje existentes (ocidental, ortodoxa, islâmica, latino-americana, japonesa…) e chega à conclusão de que a emergência da China (civilização sínica) e a explosão populacional dentro do Islã (com suas “fronteiras sangrentas”) apresentarão enormes desafios ao Ocidente no século 21 e farão com que esses blocos com ele colidam.
Huntington achou provável uma aliança sino-islâmica decorrente de interesses comuns que, seja no campo dos direitos humanos ou da proliferação de armas, não condizem com a tradição ou interesses geopolíticos da Europa, dos EUA e de seus satélites. Como se os fatores mundanos não bastassem, Huntington lembrou de outro ponto a tornar o choque Ocidente-Islã uma questão de tempo: ambos são baseados em monoteísmos com pretensões hegemônicas (ao contrário do judaísmo).
-- O autor --
Aos olhos de muitos, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 validaram a teoria de Huntington. Mas é claro que as críticas, igualmente, sempre foram muitas, variadas e rigorosas. Podemos ficar no exemplo de Paul Berman, liberal estadunidense, autor de Terror e Liberalismo, que li dia desses. Ele mesmo um entusiasta da guerra ao terror e em constante alerta contra o islamismo, Berman ainda assim critica a rigidez e o engessamento intelectual que decorrem da divisão civilização islâmica/civilização ocidental. Ele nota a ironia no fato de Huntington e outros pró-Ocidente acabarem validando os teóricos islâmicos que também advogam o “choque” com uma civilização de valores (democracia, liberalismo) que não lhes interessam e supostamente não lhes seriam compatíveis.
Para Berman isso é uma falácia que a história recente já presenciou inúmeras vezes: tiranos africanos e multiculturalistas ocidentais com peso na consciência afirmando que aquela “cultura” não teria como assimilar valores como democracia, ou comunistas da Europa Oriental, da Rússia e seus amigos do mundo livre afirmando que a democracia liberal (“democracia burguesa”, por oposição às “democracias populares”) nunca se manteria de pé em países com tradição personalista e autoritária. Berman acredita que valores como liberdade de imprensa e respeito a minorias não têm por que ser (e não são) exclusividades do Ocidente, e podem sim florescer pelo mundo islâmico, desde que os ocidentais reconheçam a enorme ameaça representada pelos fundamentalistas e não titubeiem na luta para derrotá-los. Se sua receita para isso é a mais correta e eficiente (ele apoiou a guerra do Iraque), é um outro assunto. De qualquer forma, fica a dica de uma crítica a Samuel Huntington por alguém que definitivamente não é da esquerda leniente com o islamismo.

::: O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial ::: Samuel P. Huntington :::
::: Ponto de Leitura/Objetiva, 2010, 634 páginas :::

LEIA TAMBÉM

::: Terror and Liberalism ::: Paul Berman ::: WW Norton, 2004, 240 páginas :::

Quadrinhos e Antigüidade

O mundo antigo segundo Asterix e Obelix

Túlio Vilela*


Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Divulgação
A aldeia de Asterix, sempre apresentada na abertura das histórias do personagem
"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda ? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor." Essa é a introdução que aparece antes de cada aventura de Asterix, o gaulês, famoso herói das histórias em quadrinhos francesas. Nas aventuras de Asterix, os legionários romanos quase sempre aparecem apanhando dos gauleses, especialmente de Obelix, o melhor amigo de Asterix.

Mas será que os antigos
romanos eram parecidos com os mostrados nessas histórias? E os outros povos da Antigüidade que também aparecem nessas histórias (gauleses, bretões, gregos, egípcios....)? Será que alguma tribo de gauleses conseguiu mesmo resistir aos romanos? Para responder essas e outras perguntas, precisamos separar o que é real do que é imaginário. Isso porque, como veremos com mais detalhes, nas histórias de Asterix, enquanto alguns elementos têm base em fatos históricos, outros são pura fantasia.

Metáfora da ocupação nazista na França

As histórias de Asterix foram criadas com o propósito de divertir e não com a pretensão de "ensinar História". Por isso, elas se valem do mesmo recurso usado para fazer humor nos desenhos animados dos Flintstones, a famosa família da Idade da Pedra: retratar o passado com as características do modo de vida dos dias de hoje. Na verdade, as histórias de Asterix refletem muito mais a época em que foram criadas do que propriamente a época em que elas se passam.

Asterix foi criado pela dupla de franceses René Goscinny (escritor, já falecido) e Albert Uderzo (desenhista, que continuou a criar as histórias após a morte de Goscinny em 1977). O personagem apareceu pela primeira vez na revista francesa Pilote em 1959. Segundo vários críticos, o fato dessas histórias tratarem de um povo (os gauleses) resistindo à dominação de outro (os romanos) pode ter sido inspirado na resistência francesa à ocupação
nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ou uma crítica à hegemonia dos Estados Unidos após a Segunda Guerra.

Seja como for, ao ler Asterix podemos aprender mais a respeito do mundo contemporâneo do que a respeito do mundo antigo. Neste artigo, responderemos algumas perguntas e falaremos um pouco de como diferentes povos foram mostrados nessa famosa série de quadrinhos.

Em qual período da história de Roma se passam as histórias de Asterix?

As aventuras de Asterix se passam no período da República (509 a 27 a.C.). Trata-se do período em que Roma foi governada pelo Senado. Os outros períodos da história de Roma são o da Monarquia (753 a 509 a.C.), quando a cidade foi governada por reis, e o do Império (27 a.C. a 476 d.C.), em que o Senado perdeu parte da força que tinha antes e o poder passou a se concentrar nas mãos dos imperadores. Portanto, Júlio César, o general romano que liderou a conquista da Gália, e que é figura recorrente nas aventuras de Asterix, jamais foi imperador como muita gente costuma imaginar.

O título de "imperador" (que significa "supremo") só surgiu depois da morte desse general e foi utilizado pela primeira vez por Otávio, sobrinho e filho adotivo de César, que passou a se chamar Augusto (nome que significa "divino"). Apesar de jamais ter recebido o título de imperador, Júlio César foi o principal responsável por várias conquistas militares que tornaram possível o Império Romano. Por isso, em sua homenagem, todos os imperadores romanos eram também chamados de Césares.

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reprodução
Júlio César, no traço de Uderzo

O verdadeiro Júlio César era mesmo parecido com o Júlio César mostrado nos quadrinhos?

O Júlio César mostrado nos quadrinhos de Asterix guarda semelhanças físicas com as estátuas e bustos feitos em homenagem ao verdadeiro César. No entanto, vale destacar uma curiosidade: essas estátuas e bustos geralmente mostram Júlio César com todos os cabelos, mas quando foram feitas, o modelo já era calvo. Trata-se de um fato comum na História: os poderosos são retratados da forma como eles gostariam de ser lembrados e não como realmente eram. No que se refere à personalidade, o César dos quadrinhos também lembra o que existiu em alguns aspectos, tais como espírito de liderança e habilidade política.

E Cleópatra, a rainha do Egito? Há semelhanças entre a verdadeira e a mostrada em Asterix?

A Cleópatra mostrada nos quadrinhos (e também no filme Asterix e Cleópatra) é inspirada na imagem popular difundida nos filmes de Hollywood, a de uma rainha sedutora e de beleza exótica que encantava inúmeros homens. Ao que tudo indica, a verdadeira Cleópatra era bem diferente: descendente dos reis ptolomaicos, dinastia fundada por um dos generais de Alexandre, o Grande, ela tinha muito mais em comum com os gregos do que com os egípcios (Alexandre, que veio da Macedônia, difundiu a cultura grega no Ocidente).

Segundo
Plutarco, filósofo e historiador grego que viveu na Antigüidade, Cleópatra não tinha uma beleza extraordinária, mas era muito atraente, com uma voz capaz de encantar os homens em qualquer língua. Tal como mostrado no álbum O filho de Asterix, ela teve realmente um filho com Júlio César. No entanto, na vida real, César recusou-se a tornar esse filho seu herdeiro, honra que coube a Otávio. O filho de César e Cleópatra, que se tornou o faraó Ptolomeu 15, também conhecido como Cesarion ("Pequeno César"), teve um final trágico: morreu assassinado aos dezessete anos por ordem de Otávio
. Além de Júlio César e Cleópatra, outras figuras históricas já apareceram nos quadrinhos de Asterix?

Sim. Dentre os quais podemos destacar, Vercingetórix, chefe gaulês que tentou resistir à conquista romana, e Brutus, enteado de Júlio César, que se tornaria um dos responsáveis pelo assassinato de César (daí a famosa frase que César teria proferido pouco antes de morrer: "Até tu, Brutus?!").

Alguma tribo gaulesa conseguiu mesmo resistir à ocupação romana?

Inicialmente, os gauleses conseguiram oferecer resistência, mas acabaram sendo conquistados pelo exército de César. Em 52 aC. o chefe gaulês Vercingetórix conseguiu unir as tribos do centro e do leste da Gália contra os romanos. Tudo o que sabemos desse chefe é aquilo que o próprio Júlio César escreveu em sua obra "Das guerras na Gália". No início, esse chefe conquistou algumas vitórias usando a prática da "terra queimada", que consistia em abandonar as terras mas deixando-as de maneira que o inimigo não conseguisse se reabastecer (sem comida). No entanto, após uma derrota numa batalha, Vercingetórix se rendeu para poupar seu povo. Foi levado como prisioneiro para Roma e jogado em uma cela. Há indícios de que tenha morrido estrangulado na prisão em 46 a.C. Como se vê, apenas nas aventuras de Asterix é que os gauleses vencem os romanos no final.
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reprodução

Vercingetórix depõe as armas aos pés de César

Todos os povos mencionados nas histórias de Asterix existiram mesmo?

Sim. No entanto, como já afirmou certa vez numa entrevista, o próprio desenhista Albert Uderzo, esses povos devem ter sido bem diferentes na vida real, principalmente no que se refere aos costumes. Nos quadrinhos de Asterix, os povos antigos são mostrados com as características atribuídas aos povos que vivem hoje nas regiões onde se passam as histórias. Daí, os gauleses parecerem com a imagem que os franceses fazem de si mesmos (que é bastante diferente da que o resto do mundo faz dos franceses) ou os bretões parecerem com os ingleses dos dias de hoje.
Fonte :
Uol Educação